Neste artigo, vamos explorar o uso de amônia como forma de suplementar nitrogênio no aquário marinho, suas vantagens e desvantagens, o que diz a literatura científica e como realizar esse processo de forma segura e econômica.
A manutenção de um aquário marinho saudável requer atenção constante aos níveis de nutrientes na água, especialmente nitrogênio (N) e fósforo (P). Com o avanço nas técnicas de filtragem e a busca por nutrientes zerados, a remoção de nutrientes se tornou mais eficiente, tornando comum encontrar aquários com níveis de nitrato próximos de zero.
Nesses casos, uma solução recomendada é adicionar mais peixes e aumentar a quantidade de alimentos, de modo que o nitrogênio seja adicionado ao sistema de forma natural, gradual e segura. Outra alternativa é reduzir a exportação de nitrogênio, por exemplo, desligando o skimmer por algumas horas, diminuindo a iluminação do filtro de algas ou removendo a filtragem mecânica. No entanto, essas medidas nem sempre são fáceis ou viáveis. Se o aquário já estiver lotado de peixes ou se você não quiser arriscar um desequilíbrio no sistema, uma alternativa comum é a dosagem direta de nitrato.
Embora a dosagem de nitrato funcione como fonte the nitrogênio (N) e seja detectável nos testes, estudos indicam que o nitrato não é facilmente absorvido pelos corais. Isso ocorre porque os corais precisam gastar energia extra para neutralizar o estresse oxidativo causado pelos subprodutos gerados durante a quebra do nitrato. Por outro lado, a amônia não apresenta esse problema, sendo absorvida diretamente e sem gerar subprodutos estressores. Além disso, estudos [2][7] mostram que os corais preferem amônia ao nitrato, chegando a interromper completamente a absorção de nitrato quando a amônia está disponível na coluna d'água. Por essas razões, a dosagem de amônia se apresenta como uma alternativa mais eficaz para fornecer nitrogênio aos corais e seu holobionte.
Mike Paletta e Sanjay Yoshi, dois gurus do aquarismo marinho, relataram em entrevistas ao canal Reefbum e em artigos [3] que eles observaram um aumento considerável no consumo de alcalinidade, cerca de 30%. Indicando assim, um aumento na taxa de crescimento dos corais após a adoção da amônia. Também reportaram que mais de 30 conhecidos confirmaram os mesmos benefícios.
Apesar de respeitar a experiência de ambos, sou cético em relação a relatos que parecem bons demais para serem verdade. Nos dias de hoje, ambos são influenciadores em busca de temas polêmicos para gerar engajamento, enquanto seus seguidores tendem a confirmar suas afirmações. Além disso, esses relatos têm pontos questionáveis: ambos possuem aquários grandes e repletos de peixes, o que significa que não puderam testar a eficácia do método em sistemas pobres em nitrogênio. As conclusões também foram tiradas em menos de um mês e enquanto outras mudanças eram feitas nos aquários. Para piorar, não souberam especificar as quantidades exatas de amônia utilizadas, o que considero uma informação mínima necessária pra falar sobre o assunto.
Em meus experimentos pessoais, tive resultados positivos com a dosagem de amônia, mas não observei os grandes benefícios relatados pelos gurus. Fiz o experimento em um tanque menor, mas com características semelhantes: lotado de peixes e corais, maduro e estável por muitos anos, com nitrato em 10 ppm e monitoramento de alcalinidade para acompanhar o consumo. No meu caso, não houve nenhuma mudança notável no crescimento dos corais.
Onde notei uma diferença significativa foi em dois episódios nos quais realizei trocas de água parciais de 80-90%, o que reduziu o nitrato a zero. Após isso, os corais rapidamente apresentaram cores pálidas, um sinal claro da falta de nutrientes. Quando comecei a dosar amônia, os corais recuperaram a coloração em cerca de 3-4 dias, mesmo com os testes ainda mostrando nitrato em zero. Continuei a dosagem de amônia por cerca de 30 dias, até que o nitrato estabilizou em 10-20 ppm, momento em que interrompi a dosagem. Depois disso, não observei nenhuma diferença notável nos corais.
Nestes dois episódios, dosei amônia equivalente a 1.5 ppm de nitrato por dia.
Portanto, na minha opinião, a amônia não faz milagres, mas entrou como mais uma ferramenta para o aumento de nitrogênio em aquários onde este está depleto. Se você notar alguma diferença significativa, entre em contato.
Os produtos mais populares são cloreto de amônia e bicarbonato de amônia, ambos amplamente disponíveis em supermercados e sites como Mercado Livre. Vamos ver como dosar bicarbonato de amônia (NH4HCO3), um produto barato e de grau alimentício.
Como preparar:
Misture 20 g de bicarbonato de amônia em 1 L de água RO/DI.
Esta solução tem aproximadamente 4300 ppm de amônia, equivalentes a 15.700 ppm de nitrato.
Guarde a solução em uma garrafa selada e longe do alcance de crianças.
Concentração:
Para adicionar 0,1 ppm de amônia a um aquário, é necessário adicionar 2,3 mL da solução para cada 100 L de água do aquário.
Quanto dosar:
Determine a quantidade de dosagem diária. Se você já dosa nitrato, use uma calculadora para converter a dosagem de nitrato atual para amônia. Se estiver começando, 0,3 ppm de amônia por dia é um ponto seguro e você pode aumentar gradualmente, conforme o sistema tolerar. A dosagem equivalente a 1,5 ppm de nitrato por dia é considerada segura e amplamente testada.
Cuidados necessários:
Embora a amônia, nas concentrações recomendadas, tenha baixa toxicidade para humanos, ela é tóxica para peixes. Portanto, dose longe deles, de preferência no sump.
É recomendado não ultrapassar 0,1 ppm de amônia (equivalente a 0,36 ppm de nitrato) em cada dose. Mantenha a solução em um recipiente selado, pois o contato com o ar causa degradação.
Se for automatizar a dosagem, considere o risco de falha da dosadora e o impacto de dosar toda a garrafa de uma vez.
Outras considerações:
O bicarbonato de amônia pode ser misturado na garrafa de alcalinidade para automatizar a dosagem sem a necessidade de uma bomba dosadora extra. Nesse caso, o reservatório deve ser semi-selado.
Posso misturar Bicarbonato de Amônia no Balling pra economizar uma dosadora?
Sim. Dá pra misturar a quantidade desejada de Bicarbonato de Amônia na garrafa de Alcalinidade, pois estes também são carbonato ou bicarbonato. Misturar na solução de Balling enriquecido também não é um problema.
Porém, o Bicarbonato reage com on ar e portanto a garrafa precisa ser semi selada.
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Qual a diferença entre Bicarbonato de amônia e Cloreto de Amônia?
O Bicarbonato de Amônia é preferível porque tem um efeito neutro na alcalindade do aquário e também pode ser misturado na garrafa de alcaliniadde, como visto acima. No entanto, o Cloreto de Amônia vai consumir alcalinidade no processo e não pode ser misturado no na garrafa de alcalinidade.
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É possível colocar a solução de amônia na água doce to ATO?
Sim, até porque a dose diária não precisa ser precisa. No entanto, o dosadora fornece um ajuste mais preciso e portanto é o método preferido. Lembre-se que o reservatório precisa ser semi-selado pra que a amônia não oxide com o ar.
Na dúvida, dose manualmente até adquirir confiança.
Preciso usar um teste de amônia?
Desde que você siga as recomendações deste post, não é necessário testar a amônia. A quantidade adicionada é tão baixa que nem será detectada no teste.
A dosagem de Amônia vai elevar o Nitrato em algum momento?
É plausível que sim, mas é impossível determinar a proporção exata entre o que será absorvido pelos corais e o que entrará no ciclo do nitrogênio. Por isso, não tente ajustar a dosagem de amônia com base em testes de nitrato, pois não haverá uma correlação direta.
Devo parar de dosar amônia quando o Nitrato chegar a níveis que eu quero manter?
Ainda não há uma resposta definitiva para essa questão. Existem duas linhas de pensamento sobre o assunto:
Argumento para parar: Defende que, com nitrato presente, há uma oferta suficiente de nitrogênio, seja na forma de nitrato ou de amônia produzida pelas guelras dos peixes.
Argumento para continuar: Acredita que continuar a dosagem garante uma oferta constante de amônia para os corais, eliminando a necessidade de eles processarem o nitrato para obter nitrogênio.
A decisão fica a seu critério, com base na observação do comportamento do sistema. Minha recomendação é interromper a dosagem caso o nitrato continue subindo a níveis indesejáveis.
Unravelling the different causes of nitrate and ammonium effects on coral bleaching - 2020
Nutrient uptake in the reef-building coral Acropora palmata at natural environmental concentrations - 1990
Is Ammonia Dosing a Possible New Way to Provide Coral Nutrition? - Mike Paletta @ ReefBuilders
DIY Ammonia dosing for low nitrate systems - Randy Holmes @ Reef2Reef
Video Reefbum com Sanjay e Mike.
Calculadora de dosage e concentração do Bicarbonato de Amônia.
Nitrate uptake by the reef coral Diploria strigosa: Effects of concentration, water flow, and irradiance - 2005 (resumo em português pelo ChatGPT)